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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Comissão Estadual da Verdade no Pará ouve primeiro depoimento

A Comissão Estadual da Verdade no Pará ouviu na tarde desta quarta-feira, (3), no auditório João Batista da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), o primeiro depoimento de uma das vítimas de repressão na época da ditadura militar no Estado. O ex-governador Aurélio do Carmo prestou depoimento acerca das circunstâncias da cassação de seu mandato.

Aos 92 anos, muito emocionado – em alguns momentos parecia ir às lágrimas – e fez o presidente da comissão, o advogado Egydio Salles, também ceder à emoção pela menção ao nome de seu pai, Egydio Salles, Aurélio do Carmo fez várias revelações de peso durante a oitiva. Disse, por exemplo, que o ex-governador, ex-ministro e coronel Jarbas Passarinho era quem chefiava a 2ª Seção do Exército, responsável pelas informações, e que “pelo que ouvia das pessoas na época” o então arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Ramos, denunciou vários padres aos militares, que os tachavam de subversivos. Também afirmou que, de modo geral, todos os veículos de comunicação apoiaram o golpe civil-militar e colaboraram com a ditadura, pelo menos no início. Admitiu que fazendeiros, notadamente da região do arquipélago do Marajó e da Belém- Brasília, apoiaram o golpe, embora não tenha citado nomes.
(Foto: Ozeas Santos / Alepa)Ao longo de duas horas, o ex-governador falou do clima conturbado em 1964, das greves, da promessa não cumprida do marechal Castelo Branco de que a tomada do poder seria algo temporário, do seu sentimento de ter sido injustiçado. Ao final, foi cumprimentado por todos que estavam no auditório, que fizeram questão de tirar fotos com ele.

Instalada oficialmente no dia 1º de setembro deste ano pelo governador Simão Jatene, a Comissão foi criada com objetivo de investigar e tornar públicas todas as informações sobre os casos de perseguição, tortura, morte e desaparecimentos ocorridos durante o regime militar no Pará. O Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) é um dos nove integrantes escolhidos para compor a Comissão, que teve a Lei Estadual assinada em 31 de março deste ano. E é o único do País a ter assento em uma Comissão Estadual da Verdade.
A entidade é representada pela jornalista Franssinete Florenzano, que também preside a Comissão da Verdade criada pelo Sinjor-PA, com o intuito de investigar os casos de violação aos direitos humanos e perseguição a jornalistas paraenses, no período de 1964 a 1985, por órgãos da repressão política dos governos militares. Os trabalhos foram realizados com o apoio dos jornalistas Emanuel Villaça, José Maria Pedroso (Piteira), Priscila Amaral e Luciana Kellen. A iniciativa recebeu o apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por meio da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas.
Segundo Franssinete, uma lista com mais de trezentos nomes já foi elaborada, a partir dos livros “Cabanos e Camaradas”, de Alfredo Oliveira; “Dom Alberto Mandou prender seus padres”, de Osvaldo Coimbra e “1964 - Relatos subversivos. Os estudantes e o golpe no Pará”, de André Costa Nunes, Isidoro Alves, João de Jesus Paes Loureiro, José Seráfico, Pedro Galvão, Roberto Cortez, Ronaldo Barata e Ruy Antonio Barata. Como consultores houve a colaboração de Geraldo Martyres Coelho e do “subversivo” José Seráfico.

“A lista não é completa, os nomes são aqueles que constam da bibliografia citada, e no tempo vai até o ano de 1969. Outros nomes estão elencados em "Dando nomes aos bois", de João Lúcio Mazzini da Costa. A Comissão Estadual da Verdade tentará colher os testemunhos de todos, exceto os que já prestaram depoimentos em outras comissões parceiras, cujo material será aproveitado no relatório final”, explicou.

As sessões da Comissão Estadual da Verdade são públicas e todos estão convidados para as oitivas, que serão gravadas em audiovisual e registradas em notas taquigráficas. Quem estiver fora de Belém poderá acompanhar os depoimentos pelo site da Alepa e também pela ORM Cabo.
Além de Franssinete, fazem parte da Comissão da Verdade no Pará: Egydio Machado Sales Filho, da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará, presidente da Comissão; o deputado Carlos Bordalo, presidente daComissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa; Renato Theophilo Marques de Nazareth Netto, da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos – Sejudh; João Lúcio Mazzini da Costa, do Arquivo Público Estadual; a delegada de Polícia Civil Ana Michelli Gonçalves Soares Zagalo, da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social – Segup; Marco Apollo Santana Leão, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SPDDH; Paulo Cesar Fonteles de Lima Filho, do Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça; e Jureuda Duarte Guerra, do Conselho Regional de Psicologia-PA/AP.
Fotos: Ozeas Santos / Alepa e Jean Brito

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